Independente da época e do lugar, até onde pude pesquisar, sempre foi malvisto ficar solteira depois de certa idade. Esse limite já foi 15, 16 anos. Ao longo do tempo os hábitos e costumes relacionados ao casamento foram mudando e todos têm ou conhecem aquela velha tia solteirona, sempre vista como a que fracassou, a que ninguém quis, a que sobrou. Geralmente dedicada aos sobrinhos, parece não ter vida própria. Não ter casado a condena a uma vida esvaziada de propósitos e alegrias. Em outras palavras, o homem, a grande salvação, traria a felicidade e a razão de sua existência e felicidade pessoal. Às não escolhidas cabia apenas assumirem uma posição de resignação e lamento frente ao fato.
Os tempos mudaram, e muito. A independência financeira jogou o casamento para bem mais tarde. A liberdade sexual favoreceu a ausência de pressa, já que o sexo não precisa mais do cumprimento dessa formalidade. A independência emocional e financeira da mulher de hoje não tem sequer comparativo com a das mulheres de algumas décadas atrás. Mas o que parece inalterado é o sentimento de fracasso quando se chega aos 30 anos e se está solteira, sem nenhuma perspectiva em vista. Nesse momento o sofrimento vence a barreira do tempo e tenho com frequência visto lindas jovens sofrendo como suas “fracassadas” antecessoras.
A despeito de toda a modernidade, já virou clichê julgar que uma mulher perto dos trinta (para mais ou para menos) está louca para se casar e firmar compromisso. Alguns homens confessam que temem relacionamentos com mulheres nessa faixa de idade, em que comumente se sentem pressionados e cobrados de uma forma exagerada. Para complicar ainda mais, temos o famoso relógio biológico gritando a passagem do tempo ideal da fertilidade. Existe uma tendência em idealizar a vida de todas as amigas que estão casadas ou namorando firme, como se elas fossem necessariamente felizes. Muitas vezes, quando questionam a qualidade de vida que estão tendo, percebem que estão vivendo plena e divertidamente, mas o medo de que nunca venham a se casar nubla completamente a possibilidade de entrega e curtição desse momento.
Frequentemente, sempre que nos deparamos com situações repetitivas indesejáveis, colocamos a culpa em algo ou alguém e investimos muito tempo buscando as causas na direção errada. Sina, destino, azar, praga, entre outros, costumam camuflar durante muito e precioso tempo as verdadeiras razões para nossas dificuldades. Felizmente, em algum momento podemos perceber que não somos necessariamente vítimas do que nos acontece ou de como nossa vida está se desenrolando. Aí começamos a nos aproximar das verdadeiras possibilidades de solução. Se não sou vítima do que me acontece, isso significa que tenho alguma responsabilidade sobre isso. Logo, posso então tentar transformar e redirecionar o rumo das coisas. Tal percepção e conscientização podem proporcionar pequenas mudanças que certamente levarão à grandes transformações e, às vezes até, à reversão de tendências até agora presentes.
É sempre hora de fazermos revisões sobre como estamos pensando, percebendo e reagindo à vida. O sofrimento advém de conceitos e crenças que muitas vezes já nem fazem mais sentido para nós. A mudança de atitude gera sempre uma grande melhoria e um encontro com pedaços adormecidos e acomodados que podem ser acordados, ganhando vida. No fundo o que todos queremos é nos sentir vivos e felizes e, tenham certeza, isso não está necessariamente relacionado a estarmos sozinhos ou acompanhados, vivendo relações estáveis ou fugazes, solteiros ou casados.
Até a próxima!
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
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