domingo, 27 de dezembro de 2009

As palavras do ano de 2009.

As palavras do ano


Termos e expressões de destaque que marcaram 2009


Janeiro - Demissão
"Demissão" vem do latim demissio, demissionis, com sentido de "queda", "rebaixamento", "interrupção". O ano mal começa e a palavra já assombra o planeta, com o agravamento da economia global. Como consequência da crise, a sensação de rebaixamento contida na palavra "demissão" ganha corpo com os níveis de pressão no trabalho, os programas de desligamento voluntário e os sacrifícios pessoais pela manutenção do emprego. E ganha também um símbolo na onda de suicídios corporativos da France Telecom, divulgados inicialmente em janeiro e que até outubro responderia por 25 casos.


A advogada Paula Oliveira se automutilou para simular ataque neonazista
Fevereiro - Fraude
A advogada brasileira Paula Oliveira, de 26 anos, denuncia às autoridades suíças ter sido vítima de um ataque xenófobo numa estação de metrô em Zurique. A agressão, que ela atribuiu a skinheads, teria resultado num aborto. Com isso, o clima pesou nas relações diplomáticas entre Brasil e Suíça, e o tema da xenofobia europeia voltou à tona. Até que finalmente a farsa é descoberta: médicos legistas concluíram que a jovem mutilara o próprio corpo. A brasileira foi indiciada por mentir às autoridades, punição por uma fraude (do latim fraus, fraudis, "erro", "ação de iludir") de implicações diplomáticas.

D. José excomungou a menina de 9 anos que fez aborto legal
Março - Excomunhão
O arcebispo de Olinda e Recife, D. José Cardoso Sobrinho, causou espanto ao excomungar uma menina de 9 anos que, de maneira legal, abortara gêmeos - concebidos após sucessivos estupros cometidos pelo padrasto. "Excomunhão", pela etimologia do latim eclesiástico, vem de excommunio, onis e, em sentido figurado, equivale à exclusão de uma pessoa de dado grupo.


Gabeira: uso irregular de passagens aéreas
Abril - Passagem
A denúncia do uso irregular da cota de passagens aéreas por parlamentares vira tema obrigatório no país. Não era preciso prestar contas de bilhetes, destinos e valores. O escândalo envolveu até nomes graúdos da política, como Tasso Jereissati e Fernando Gabeira, que pediu desculpas pelo gasto indevido. Quase premonitória, a palavra "passagem" não esconde a origem francesa: o significado de passage remonta a "desfiladeiro na montanha", e foi ao abismo do trem da alegria que os parlamentares foram lançados ao cair na boca do povo.
Maio - Gripe
O termo contagiou os mais diversos meios de comunicação, que passaram a alertar as pessoas sobre as formas de transmissão da gripe suína com frequência diária. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), as perspectivas eram de uma genuína pandemia e uma dúvida semântica: em meio ao alarde, as autoridades de saúde discutem o tratamento a ser dado pela mídia à doença e "gripe A" termina por substituir "suína". A disseminação no idioma também era passível de controle.

Airbus da Air France: sumiço no litoral brasileiro
Junho - Acidente
A notícia de uma catástrofe aérea voltou a assombrar o imaginário do brasileiro. Um avião da Air France que ia do Rio de Janeiro a Paris sumiu no oceano, próximo ao litoral de Fernando de Noronha. Por ter caído em alto mar, o acesso das equipes de resgate aos destroços foi difícil e as buscas arrastaram-se por dias até que se dessem por encerradas. O acidente resultou em 228 mortes, 58 delas de brasileiros. O termo remonta ao latim accidens, entis, "o que sucede", particípio presente de accidere, "cair".
Julho - Ato secreto
A descoberta de esquema no Senado de favorecimento de servidores e gastos não publicados no Diário Oficial fica conhecida como "ato secretos" porque só os "interessados" sabiam de sua existência. "Ato" vem do latim actus e quer dizer "movimento", "impulso" ou "andamento". Já "secreto" remonta ao latim secretus, a, um, "apartado", "distinto", "especial", sentido que parece soar melhor aos ouvidos dos políticos, que se julgam acima dos mortais, do que algo feito às escondidas justamente por ser ilícito.

Agosto - Factoide
Dois factoides tomam o mês. Um foi o erro de português de Sasha (foto abaixo), filha de Xuxa, no Twitter. Ao escrever "cena" com s, a menina virou alvo da intolerância dos internautas. Outro caso foi a suposta politização da Receita Federal pelo governo Lula, hipótese que, mais tarde, não encontraria respaldo nem na oposição. Segundo o Aurélio, factoide é "fato, verdadeiro ou não, divulgado com sensacionalismo" para gerar impacto. De origem grega, o sufixo "oide" pode conter teor pejorativo.
Setembro - Marolinha
O anunciado tsunami da crise mundial acabou mesmo em "marolinha" no Brasil. O diminutivo de "marola", usado por Lula para amenizar reflexos da crise na economia brasileira, indicou um otimismo que foi execrado no fim do ano, mas que em setembro lhe rendeu elogios internacionais. O jornal Le Monde, por exemplo, lhe atribuiu uma "visão correta" do cenário econômico. O processo de formação da palavra "marola" é semelhante ao de palavras como "bandeirola" e "camisola", que vão para o diminutivo com o acréscimo do sufixo de origem latina -ola.

Rio de Janeiro: sede dos jogos Olímpicos de 2016
Outubro - Olimpíadas
A mídia norte-americana bem que tentou jogar areia na candidatura do Rio de Janeiro a sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Em vão. Pela primeira vez, o Comitê Olímpico Internacional anuncia a cidade como a contemplada. O termo "olimpíadas" vem do latim olympias, adis, que por sua vez derivou do grego olumpiás, ádos, e quer dizer "espaço de quatro anos".

Geisy: quase linchada por causa de um vestido .
Novembro - Expulsão
Quase linchada por 700 estudantes ao usar um minivestido rosa na Uniban de São Bernardo do Campo (SP), onde cursava turismo, Geisy Arruda acabou expulsa da universidade por dois dias. Com a repercussão do caso, a universidade revogou a expulsão. Do latim expulsio, onis, o termo equivale à ação de repelir, lançar com violência, como o ato violento de alunos e direção da universidade paulista.
Dezembro - Retrospectiva
Dezembro retoma a palavra, autorreferencial neste espaço. Incorporada no jargão da mídia há quase três décadas, com o sentido de balanço de acontecimentos, "retrospectiva" tem registro em português desde 1899, como "relato de fatos" e "exposição das obras de um artista". Virou uma das palavras-símbolos do fim de ano, uma sugestão de retomada da memória, cujo sentido de revisão foi acentuada no português brasileiro por via norte-americana, de onde nos chegou retrospection (usada no inglês desde 1674) por via francesa restrospection (desde 1839).

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