Dunga e Maradona
Para todos os que estavam torcendo pelo hexa, a frustração não vem apenas pelo fato da seleção ter perdido para a Holanda, mas principalmente porque tínhamos plenas condições de vencer.
O desequilíbrio emocional do time do Brasil ficou evidente na reação individual de alguns jogadores, e na incapacidade de reação de toda a equipe.
Uma das perguntas que não quer calar é:
“ Por que a seleção brasileira demonstrou tamanho desequilíbrio emocional? ”
Bem, existem várias respostas para esta pergunta, e algumas delas nunca iremos descobrir, por isso permita-me ater àquela que ficou evidente para todos nós: a grande diferença entre poder e autoridade.
De um lado o poder, representado pelo zangado Dunga, e de outro a autoridade, exemplificada por nosso “hermanito” Diego Maradona, um dos grandes personagens desta copa.
Imagine dois meninos participando de um campeonato de futebol na escola. Do lado de fora o pai de um deles dá bronca, xinga, grita, briga e não aceita qualquer erro do filho.
No intervalo, descontrolado, aponta tudo o que o filho fez de errado, e exige que ele melhore o seu desempenho, porque se não o fizer, a bronca vai ser ainda maior.
Já o pai do outro menino, apesar de alguns erros do filho, o incentiva o tempo todo, sinaliza que acredita nele, grita palavras de apoio, e no intervalo enfatiza o que ele está fazendo bem, o ajuda a enxergar o que pode melhorar, reitera o quanto acredita em seu potencial, e que independente do resultado, ele sempre terá o seu apoio.
O primeiro pai adota a postura “ Dunga ” de liderança, onde manda quem pode e obedece quem tem juízo, enquanto o segundo pai prefere o estilo “ Maradona ”, permitindo que as pessoas façam o que precisa ser feito por que assim o desejam.
Esta é a diferença entre poder e autoridade.
Segundo Max Weber, autoridade é a habilidade de levar as pessoas a fazerem sua vontade de bom grado por causa de sua influência pessoal, e poder é a capacidade de obrigar ou coagir as pessoas a fazerem sua vontade, por causa de sua posição ou força, mesmo que elas preferissem não fazê-lo.
O poder pode ser comprado, vendido, negociado, subornado, dado e retirado.
Preferências pessoais, amizades, laços familiares e interesses escusos podem colocar uma pessoa em posição de poder, mas não podem dar-lhe autoridade.
Poder é o que você faz, autoridade é o que você é.
Voltando ao exemplo dos meninos, qual dos dois meninos você preferiria ser?
Qual dos pais você preferiria ter ao seu lado num jogo de futebol? Certamente o segundo.
Não importa o tipo de sua organização: indústria, comércio, serviços, família, igreja, clube, ONG, condomínio ou esportes, ela opera no ramo dos relacionamentos; elas só existem e acontecem por causa das pessoas, e aí é que mora o perigo do abuso de poder; com o tempo, ele compromete o principal negócio das organizações: os relacionamentos.
É por isso que modelos “ Henry Ford ” de liderança não têm mais espaço nos dias de hoje.
Pensamentos como:
“ Pode ser de qualquer cor, desde que seja preto ” já não fazem tanto sucesso em nossos dias.
Esta cultura teve sua aplicação ao longo da História, mas o seu tempo já passou.
É por isso que o modelo “ Dunga ” de liderança não funciona, e não funcionou.
Você pode estar pensando:
“ Mas a Argentina também perdeu, portanto, o modelo de Maradona tampouco funciona ”.
A verdade é que as derrotas também fazem parte do caminho do aprendizado.
A derrota não invalida uma boa liderança.
Se você notou, quando terminou o jogo do Brasil com a Alemanha, Dunga abaixou a cabeça e foi direto para o vestiário sem conversar com seus jogadores, enquanto Maradona, após ser atropelado pela Alemanha, ao final da partida caminhou em direção a cada jogador, agradecendo e consolando um a um.
A autoridade é legitimada pela equipe, estabelecendo a conexão entre líder e liderados, já o poder distancia o líder de sua equipe.
A autoridade reforça a confiança, enquanto o poder aumenta o controle.
A autoridade permite que as pessoas arrisquem mais porque sabem que um possível erro será usado como aprendizado, já o poder inibe a criatividade porque as pessoas sabem que serão punidas por seus erros.
A autoridade traz maior confiança, controle e estabilidade emocional à equipe, enquanto o poder desestabiliza e fragiliza as pessoas, e foi justamente isso que aconteceu com nossa seleção.
O verdadeiro líder conhece a si mesmo e está tão seguro de sua identidade que nada nem ninguém podem impedi-lo de identificar e atender as legítimas necessidades de seus liderados, conquistando, assim, a autoridade necessária para aumentar a confiança e diminuir o controle sobre as pessoas, portanto, como líder, priorize a autoridade.
Marco Fabossi
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