sábado, 9 de janeiro de 2010

Quero PAZ....

O HOMEM NA PANELA DE PRESSÃO...

SER LÍDER, RICO, BEM-SUCEDIDO NO TRABALHO, E AINDA POSAR DE HOMEM FORTE DA FAMÍLIA... FAZEM PARTE DAS ATRIBUIÇÕES MASCULINAS – ALGUMAS, PELO MENOS. O DIFÍCIL É DAR CONTA DE TANTAS EXIGÊNCIAS. CONHECER OS LIMITES E SABER O QUE REALMENTE SE QUER DA VIDA AJUDA, E MUITO, A DRIBLAR AS INFINDÁVEIS PRESSÕES DO DIA-A-DIA.

AS COBRANÇAS tem fundamento histórico. Por séculos, o homem foi o guerreiro: aquele que saía para caçar, pescar – enfim, o responsável por prover a família. Assim, ele assumiu a posição de líder natural e, como tal, virou o responsável por todas as decisões dentro da tribo e depois da sociedade. E de certa forma continua assim. “O homem ainda é preparado para vencer sempre. A imagem dele como o ser forte e com poder ainda está muito presente na nossa realidade social”, explica Paulo Tessarioli, psicólogo e criador da Vivendo Melhor, consultoria em saúde e educação, de São Paulo. Juntando as exigências do mundo capitalista, que cobra a perfeição, o universo masculino fica ainda mais complexo. “ O erro é visto como algo abominável. O homem tem de ser um profissional perfeito, ágil, eficaz. E ele será mais respeitado e terá seu valor reconhecido se exercer alguma atividade de liderança ”, diz Alessandro Ezabella, psicólogo e psicoterapeuta social de São Paulo. É o que você sente? Calma. Há solução para essa pressão não acabar em estresse puro ou até em depressão. Mas antes veja como ela, a pressão – que é natural secular –, cerca você pelas arestas. Mesmo que alguns conceitos tenham desaparecido. É certo que já existem sinais de mudança. Fala-se cada vez mais em um homem sensível e mais vulnerável. O problema é esse: fala-se e não se espera. Será que a sociedade ou mesmo a mulher está preparada para receber esse ser mais sensível sem um estranhamento? Talvez o discurso tenha até mudado, mas as expectativas muito freqüentemente são as mesmas. Nota-se claramente que a própria estrutura da sociedade passa por alterações – basta ver a importância que a mulher assumiu no mercado de trabalho. Ótimo. Então isso livra o homem da pressão da responsabilidade de prover, da obrigação de liderar e dar sempre a última palavra? Não necessariamente. O novo formato social também gera uma pressão sobre esses seres poderosos, que não aprenderam a dividir os cargos de chefia com elas. “Como ele sempre foi o líder, o fato de deixar de ser, de perder esse espaço para a mulher, mexe com a masculinidade”, afirma o psicólogo Claudecy de Souza, de São Paulo.

Peso eterno
O conceito do que é ser homem passava justamente por essa questão da força, do poder, de liderança. Se de repente isso muda, eles sofrem e muitos perdem inclusive a segurança sexual. “ Ele se sente pressionado em relação à sexualidade, pensa que não pode falhar também na cama”, diz Claudecy. No fim, é como se sofresse várias vezes. No trabalho, por achar que, como homem, deve ter um cargo superior ao das colegas mulheres. E na família, vive a tensão de ter que sustentar a casa e depois a frustração de não conseguir fazer isso sozinho e precisar da ajuda da esposa. Aliás, há muitas novas cobranças para o sexo masculino. E algumas não chegam a ser ruins. O homem ganhou o direito, ou o dever, de estar mais perto dos filhos, por exemplo. Hoje ele está autorizado, ou intimado, a participar mais da educação e do dia-a-dia deles. Segundo Paulo, o novo conceito de masculinidade deve nascer daí, dessa convivência com os filhos, que permitirá ao pai expressar sentimentos aos quais não estava acostumado e a descobrir que não será menos macho por isso. Mas não pense que essa constatação alivia o peso que você carrega nas costas. As novas atribuições dentro de casa também são uma forma de pressão. Afinal, “ macho que é macho ” não foi treinado para tanto e ainda fica tenso, tentando acertar. “É um fator a mais para pressionar: ele se sente na obrigação de dar conta de tudo”, diz Paulo. É como se a revolução masculina estivesse começando agora, pouco mais de 40 anos depois da das mulheres. É comum encontrar hoje homens que também têm a segunda jornada de trabalho em casa e estão tendo que aprender vários novos afazeres e tudo bem rápido e na marra. Em suma, pressão vem de todos os lados. Nas grandes cidades ela se manifesta, sobretudo, no que diz respeito às questões materiais. “ Quem não se acha mais importante ou valorizado dirigindo o melhor carro, falando no último modelo de celular, ocupando o cargo mais alto da empresa? Isso tudo é sufocante. Para conseguir essas coisas é preciso trabalhar mais, se instrumentalizar melhor, correr atrás”, enfatiza Claudecy. Mas o especialista Alessandro Ezabella ressalta o outro lado dessa moeda. “ É possível pensar em uma pressão positiva, que faz com que este homem atinja seus objetivos e ocupe a posição de líder, se isso estiver em seus planos”, diz. O mais importante é saber conviver com ela. Principalmente porque o homem lida sozinho com a pressão. “ Ele dificilmente tem o costume de dividir suas dificuldades e cobranças com outras pessoas ”, ressalta Alessandro. Comportamento que produz conflitos ainda maiores.

“Para mim já bastam às pressões do trabalho em si. Os problemas, os prazos, os horários, o trânsito, a obrigação de fazer bem-feito. Isso é mais do que suficiente, por isso não faço questão de assumir mais responsabilidades, não sinto necessidade de ser líder de coisa alguma. Sou um trabalhador técnico, especializado, não tenho vocação para ser supervisor, virar chefe, cuidar da tarefa dos outros. Quero fazer o meu trabalho direito e ir embora para casa correndo. O dinheiro a mais que ganharia com esse cargo mais alto me privaria do tempo livre para fazer o que realmente gosto. Não me importo com carro bacana nem com apartamento em prédio de luxo. Essencial é uma viagem de vez em quando, a minha tranqüilidade, a praia no final de semana, os meus jogos de futebol no domingo. Em casa, se minha mulher ganhasse o suficiente para manter a casa sozinha, eu até proporia parar de trabalhar. Viraria um vendedor de caipirinha na praia e seria feliz, eu garanto. Conheço um ambulante desses que foi para a Alemanha em plena Copa do Mundo e não foi para trabalhar, não, foi para aproveitar mesmo. Quer coisa melhor?” Flavio Machado, engenheiro mecânico, 38 anos

“Trabalho no mercado financeiro e sofro pressão o tempo todo para captar investimentos para o banco, cumprir metas. Sem falar na competitividade que existe lá dentro: um só esperando uma oportunidade para pegar as contas do outro. Ganho bem e tenho apartamento e carro do ano, mas acabei ficando refém dessas coisas, do condomínio muito alto, da escola cara das crianças, das viagens que eu e minha mulher não queremos deixar de fazer. Quando você assume um padrão de vida alto, a pressão piora, porque perder o emprego significa não ter mais os supérfluos que a gente pensa que são importantíssimos. No fundo, não faço questão de nada disso. Eu era até meio zen, mas fui me obrigando a ser de outro jeito. Talvez porque tenha visto meu irmão e minha irmã ficarem muito bem de vida. Achei que também tinha essa obrigação. Todo ano faço planos para sair dessa rotina, mas não tenho coragem. Às vezes me pego torcendo para ser demitido, assim eu não sentiria culpa em reduzir o padrão de vida dos meus filhos. Minha mulher é batalhadora, mas eu me sinto mais responsável pela manutenção do status que conquistamos.” César Fernandez, economista, 39 anos

“O GRANDE PROBLEMA É QUANDO A PRESSÃO PARALISA A PESSOA, FAZENDO COM QUE ELA SE SINTA TÃO COBRADA QUE SE TORNA INCAPAZ DE AGIR DE FORMA PRODUTIVA. ISSO VIRA ANSIEDADE E, DEPOIS, CAI NA DEPRESSÃO.”

ALESSANDRO EZABELLA, PSICÓLOGO

O Verdadeiro Sucesso ASSIM COMO TODAS ESSAS NOVAS FUNÇÕES E POSTURAS – DIANTE DA SOCIEDADE, FRENTE À PATERNIDADE E À MASCULINIDADE – PODEM SER APRENDIDAS, É POSSÍVEL TAMBÉM ASSIMILAR UMA FORMA SAUDÁVEL DE LIDAR COM O SEM-FIM DE COBRANÇAS E EXIGÊNCIAS DO TRABALHO OU DA VIDA FAMILIAR

Talvez o principal segredo seja o auto-conhecimento. “No consultório pode-se constatar facilmente que as pessoas menos afetadas por esse contexto de pressão intensa e constante são as que se conhecem, que sabem dos seus limites e que não os violam”, garante Claudecy. Alessandro Ezabella concorda: “Alguns homens se sentem muito bem no exercício de outros papéis que não o de liderança. Eles até preferem assim. A grande questão é ele reconhecer que isso não quer dizer que seja inferior ao outro, que é líder, e que saiba lidar com a pressão social”.

Trabalhar a forma de pensar também ajuda muito, como explica Claudecy: “Se a pessoa pensa de forma errada ou inadequada, ela certamente terá mais problemas. O que recomendo é que ele verifique o quanto de fundamento há no raciocínio que o preocupa. Por exemplo, antes de imaginar que se não aceitar o cargo que não deseja será demitido, é imprescindível checar a real possibilidade disso acontecer. As ações devem ser mais baseadas em fatos do que em ‘achismos’.

“Conseguir fazer uma boa avaliação crítica das situações ajuda a determinar o nível de urgência e de importância dos assuntos cotidianos e permite que se concentre a atenção em problemas relevantes, deixando de lado questões pequenas e que podem esperar mais”, sugere Alessandro Ezabella, frisando que ter clareza da situação ajuda a lidar bem com as pressões.

O especialista Paulo Tessarioli lembra que estamos na era da personalização “dos desejos, das relações, dos sonhos. O mundo está questionando os modelos-padrão e o ideal é que cada um descubra como realmente quer viver. É hora de personalizar as relações de trabalho ou pessoais”.

Alessandro Ezabella reforça a idéia de cada um perceber o que realmente faz parte de seus sonhos, suas aspirações e o que é apenas pressão social. “Muitas vezes o que a sociedade cobra não tem a ver com o projeto de vida da pessoa. Por isso, é importante fazer um exercício constante para discernir as vontades próprias das alheias”, aconselha.

Sugestões de leitura para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema:

* Mito da masculinidade,
de Sócrates Álvares Nolasco, Editora Rocco

* A Mente vencendo o humor,
de Dennis Greenberger, Editora Artes Médicas Sul

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